Saturday, February 14, 2009

Novas facetas de Sá de Miranda




Assume-se como uma "nova homenagem a Sá de Miranda" para celebrar os 450 anos da morte do poeta da Casa da Tapada, de Amares, mas constitui mais um contributo delicioso de Agostinho Domingues para o enriquecimento da cultura minhota e um melhor conhecimento da vida e obra que complementa o que foi partilhado no V Centenário do seu nascimento, em 1987.

Na continuidade daquele trabalho do ex-vereador da cultura da Câmara de Amares, reavivam-se agora a personalidade e a obra deste insigne personalidade das letras portuguesas com apoios das autarquias de Coimbra, Cabeceiras de Basto e Amares, por sugestão do escritor e editor Fernando Pinheiro. Assim, Sá de Miranda "está ainda mais vivo no Minho", uma vez que tendo vivido em Vila Verde e em Amares, fez desta região o seu refúgio, quer nas margens do rio Neiva que o inspiraram quer na Casa da tapada, em Fiscal, ou em Carrazedo onde repousam os seus restos mortais.

Vinte anos depois da primeira antologia e breve biografia de Sá de Miranda, Agostinho Domingues, ilustre e querido colaborador do Correio do Minho, enriquece-nos com novas ligações "entre a vida e obra", para além de incluir outros textos que se referem a Sá de Miranda da autoria de Diogo Bernardes, António Ferreira e Jorge de Montemor, e diversificar os textos da antologia acrescentando-lhes a prosa e alguns textos em castelhano.

Mantendo-se fiel á primeira homenagem, Agostinho Domingues actualiza a ortografia dos textos transcritos, numa perspectiva pedagógica de tornar mais fácil o entranhamento e o gosto pelos escritos mirandinos especialmente à gente nova. Apenas é mantida a ortografia original quando é necessária para se perceber ou justificar a métrica ou rima.

Agostinho Domingues guia — ao longo de 170 páginas — os seus leitores através da vida de Sá de Miranda, nascido em Coimbra, às amizades com Bernardim Ribeiro ("meu bom Ribeiro amigo") e com o Rei, as viagens por Itália (entre 1521 e 1526) antes do regresso e o casamento por amor que o traz para Penela — onde concebeu e compôs a maior e melhor parte da sua obra poética na companhia inspiradora de Briolanja de Azevedo— (com breve passagem por Cabeceiras de Basto) e fixação na Casa da Tapada, em Amares, a partir de 1552.

Em Cabeceiras de Basto privou com os senhores da Casa da Taipa na quem dedicou uma écloga, "Basto", afirmando-se como um poeta consagrado no país, ao ponto do rei lhe pedir as suas obras manuscritas.

António Ferreira — o grande mestre do Teatro português — Diogo Bernardes e Jorge de Montemor elogiam a arte poética antes de nos ser sugerida uma proposta de antologia mirandina que encerra com as suas "Cartas". Através dos textos seleccionados podemos conhecer melhor este "Homem dum só parecer/dum só rosto e d'uma só fé,/de antes quebrar que volver,/outra coisa pode ser,/ mas de corte homem não é".

Agostinho Domingues nasceu em Santa Maria de Bouro, em 1940, mas reside em Braga desde há 40 anos.

Licenciado em Filologia Românica em Coimbra, Mestre em Língua e Literatura Portuguesa pela Universidade do Minho e Doutor em História Moderna pela Universidade do Porto, teve como ponto alto da sua actividade política a participação na Assembleia Constituinte e Assembleia da Republica.

Fez carreira profissional no ensino secundário e foi inspector regional de Educação, além de se dedicar a divulgar alguns dos maiores vultos das línguas e cultura portuguesa nos jornais e revistas, com destaque para o Jornal Correio do Minho.

Apesar do atraso com que se alude a esta publicação, Agostinho Domingues vai perdoar melhor que ninguém pois nunca é tarde demais para falar deste poeta ou filósofo "austero, preocupado com a corrupção que via medrar por todo o Portugal, angustiado com os efeitos dissolventes do mercantilismo gerado e sustentado pelos negócios ultramarinos, com o abandono dos princípios morais e sociais que tradicionalmente asseguravam a coesão e a saúde da sociedade portuguesa".

Por outras palavras, mesmo que este texto fosse publicado daqui a muitos meses, infelizmente a vida e obra de Sá de Miranda espelham uma actualidade desconcertante nos nossos dias. Até porque continuamos sem saber se o havemos de chorar "porque nos deixaste, se cantar por entre mortais ver-te divino", como cantava Diogo Bernardes.

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