Monday, December 2, 2013

Viver em Braga é bom … comprovadamente


Há alguns dias, um estudo europeu comprovava que noventa e cinco por cento dos bracarenses gostam de viver em Braga.
Era uma das conclusões do Eurobarómetro da Comissão Europeia, relativo à ‘Percepção da qualidade de vida nas cidades europeias’, e que foi divulgado ontem.

O inquérito foi realizado em 79 cidades europeias, de todos os Estados-Membros da União Europeia, bem como a Islândia, Noruega, Suíça e Turquia.

Braga, Lisboa e arredores foram as cidades portuguesas chamadas a valiara satisfação dos habitantes relativamente às infraestruturas, à facilidade de encontrar emprego e habitação, à segurança e aos serviços públicos.

No caso da saúde, 58% dos bracarenses inquiridos estão satisfeitos, e só 14% estão totalmente insatisfeitos. Os transportes públicos satisfazem muito 59% dos bracarenses e, no acesso à cultura, 60% dos inquiridos responderam afirmativamente.

Quase 80 por cento dos bracarenses consideram a cidade limpa e segura e elogiam a boa integração das pessoas estrangeiras.
Se estes números devem elevar a auto-estima dos bracarenses e daqueles que governam a cidade – no poder ou na oposição, sem que se sintam envergonhados – é bom notar lguns dados que escaparam às notícias.

Assim, Braga bate Lisboa na qualidade de vida, neste estudo que envolveu 83 cidades e a coloca em 24.º lugar, vencendo também Lisboa na categoria de melhores espaços públicos. Também na segurança, Braga fica a léguas de Lisboa.

Mais, Braga ocupa o primeiro lugar, entre 83 cidades, nos melhores estabelecimentos de ensino o que deve potenciar a Cidade dos Arcebispos como Cidade da Educação.

Mas há outro capítulo em que Braga ocupa o primeiro lugar entre as 83 cidades. A capital do Minho é a cidade europeia onde é mais fácil comprar casa a preços razoáveis. Lisboa aparece em 24.º lugar.
E ainda mais, no nove sectores em análise, apenas a cidade de Groningen ultrapassa Braga, com três primeiros lugares.

Se olharmos estes números e os compararmos com cidades como Lisboa, Manchester, Paris, Atenas, Zurique, Viena, Munique, Oslo, Málaga, Malmoe, Lille, Hamburgo, Estrasburgo, Helsínquia e Praga, podemos afirmar comprovadamente que Bracara Augusta é uma cidade europeia de corpo inteiro, onde é bom viver, comprovadamanete.

Rentabilizar, turisticamente, estes números, é uma oportunidade a não desperdiçar. Braga destaca-se na Europa como cidade jovem, segura, limpa, educadora e acolhedora, com um património ímpar (material e espiritual) que lhe dá uma singularidade sem par.

Liberdade de escolher cada vez menor




Um amigo nosso enviou-nos um link que nos deixa estarrecidos. Convido os que sabem inglês a lerem com os seus próprios olhos. Da nossa parte, para aqueles que não tiveram a sorte de apreender a Língua de Sua Majestade, deixo aqui um resumo de http://www.policymic.com/articles/71255/10-corporations-control-almost-everything-you-buy-this-chart-shows-how. Vejam especialmente os gráficos ampliados.

Dez multinacionais controlam a comercialização de quase tudo o que cada um de nós compra, desde os produtos domésticos até aos alimentos para animais e vestuário.

A Reddit  elaborou um estudo com gráfico, intitulado “A ilusão da escolha” que nos mostra como essas dez empresas criaram uma cadeia que se inicia numa dessas dez super-empresas.

Grande parte dos nomes estão nos nossos ouvidos mas é impressionante e incrível ver até onde chega o seu poder influência.

O gráfico da Reddit mostra-nos uma mistura de redes de empresas mães que possuem acções e são parceiras num conjunto alargado e diversificado.
A Coca Cola possui uma rede que envolve outras quinze multinacionais que vão desde a Fanta às águas minerais, Sprite e Dasani ou Pour, Nestea.

A Proctor & Gamble – maior anunciante dos EUA -  participa num conjunto de empresas que produzem tudo, desde medicamentos a pastas dentífricas e vestuário.
A Nestlé factura duzentos biliões de dólares, é a maior empresa de alimentos do mundo e possui oito mil marcas, como os champôs L’Oreal, os alimentos para bebé Gerber, as roupas Diesel, os chocolates Kit Kat e as marcas de comida para animais Purina e Friskies.

Sabe que a Unilever dos sabões e detergentes Breeze, Confort, possui dois biliões de clientes em todo o mundo, controla as manteigas da Knorr, Becel, Hellmans, cervejas, os chocolates Magnum, os chás Lipton, os desodorizantes Axe e Dove, a Pepsodent, Vaseline, entre mais de cinquenta marcas que fazem parte do nosso dia-a-dia?
Estas redes diminuem a capacidade de escolha, aceleram os monopólios mas o perigo maior é este: seis das dez maiores multinacionais controlam noventa por cento da publicidade na TV, rádio e Imprensa.

Nos Estados Unidos e na Europa, 37 bancos que já eram gigantescos fundiram-se para dar origem apenas a quatro — JPMorgan Chase, Bank of América, Wells Fargo e Citigroup – que detêm 77 por cento do dinheiro nos EUA. Nos Estados Unidos existiam 12 mil bancos em 1990 e hoje são oito mil.

Como responder a esta ameaça? Só há uma saída urgente: apoiar os nossos pequenos produtores e dar-lhes condições para um comércio de qualidade.
Nós podemos escolher. Estamos à espera de quê? Lutem pela liberdade de escolha contra a intoxicação de uma minoria que esmaga tudo e todos, incluindo a comunicação social que nos alimenta a ilusão da liberdade de escolha.

Redes: sorriso que traz desgraças


Existem muitos pais e mães babados que gostam de colocar ns redes sociais – com destaque para o Facebook — as fotos dos seus rebentos e algumas das suas habilidades.

Todos sabemos que os nossos filhos são os melhores do mundo mas isso tem pouco interesse para os outros pais – porque eles pensam os mesmo dos seus herdeiros.

Todos os anos, no dia 5 de Fevereiro se celebra o Dia da Segurança da Internet, em que os pais são sensibilizados a acompanhar as viagens dos filhos nesse mundo sem fim. Ora, esse cuidado começa pelos pais que tantas vezes se comportam como crianças.

Portam-se assim porque ignoram que um simples clique, uma imagem partilhada pode dar início a um pesadelo um pesadelo. O que para um pai ou pai é uma inocente foto do filho, tirada na praia, para outros pode representar um verdadeiro objecto erótico.

E não podemos acusar o Facebook disso. Um estudo do Facebook dá conta que mais de 60% dos novos pais britânicos publica no Facebook fotografias dos seus filhos recém-nascidos quando estes têm menos de uma hora de vida.
Por mórbido e execrável que nos possa parcere, estas fotos são uma verdadeira delícia para os pedófilos e maníacos obcecados pela busca constante de fotografias infantis na internet.

O problema começa quando estas imagens são de crianças nuas ou nas quais seus filhos, recém-nascidos ou já um pouco maiores, fazem determinadas posturas. O pedófilo busca isso constantemente e, ao ver a fotografia da criança, crescerá nele o desejo sexual de possuí-la.

Os pais novos conhecem touch-screen e usam-no nos telemóveis e outros artefactos. Mas o que isso tem a ver com a pornografia?

Tem tudo a ver, pais  que têm tanto de babados como de incautos: além da visão, o tacto aumenta o prazer. As fotos são vistas, contempladas, observadas com zoom, aumentando, com os dedos, zonas íntimas, que aumentam a obsessão do pedófilo.

Voltemos aos números oferecidos pelo Facebook Itália: em 2012, 300 mil os menores de 13 anos tinham um perfil nesta rede social – um número que só tende a crescer.

 Todos os dias, só no Facebook, há 600 mil tentativas de entrar numa conta de terceiros… Para proteger as suas passwords, ligue-se a www.internetsegura.pt e descubra as ferramentas de protecção que pode utilizar.

A imagem do seu filhote ou filhota  que circula online pode ser adquirida e usada por terceiros, sem que haja uma autorização prévia do legítimo titular –  no caso dos menores, são os próprios pais.

Este é um caminho longo e complexo, muitas vezes incapaz de eliminar toda mancha de violência sofrida pelo menor, às vezes vítima da obsessão do pedófilo, mas sobretudo da incúria dos pais.

Devido a esta negligência, quantas vezes os melhores filhos do mundo — que são os nossos — vivem os maiores pesadelos do mundo.

S. Pedro d'Este: sucesso no Brasil


Casal de sucesso Português de Braga


No seu grosso livro de memórias, o grande secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger escreveu que o “sucesso resulta de cem pequenas coisas feitas de forma um pouco melhor”.

Este princípio de vida aplica-se perfeitamente a um casal de bracarenses que no começo da década de noventa decidiu palmilhar o caminho do sucesso em terras de Vera Cruz.
A professora Maria da Luz e o marido Manuel Pinheiro deixaram S. Pedro d’Este  e criaram perto de Jacarepaguá uma empresa de eletromecânica.

Esta empresa familiar tem como actividade principal a fabricação de móveis. Nesse universo, a empresa fabrica armários multiuso, profissionais, especiais e acessórios, e é uma das sete unidades do grupo Nilko.

Os clientes da Nilko Armários vão desde a dona-de-casa que queira arrumar a sua habitação, passando pelo colégio que pretende cacifos para os alunos, até a refinaria de petróleo que tem que oferecer um vestiário aos colaboradores.

A Nilko é hoje um grupo de empresas e serviços de telecomunicações, informática e distribuição de energia.

Associada está outra marca, a Multimeios que fabrica tudo o que é preciso para montar uma escola moderna, bonita e segura, desde móveis, armários de aço, relva sintética, pisos de recreios, parques infantis e brinquedos.

Localizada em Jacarepaguá, na cidade do Rio de Janeiro, a Multimeios já foi agraciada com o Prémio Qualidade Brasil, galardão dado à empresa que mais de destaca no atendimento dos clientes e na qualidade de produtos e serviços.

Este casal de bracarenses prova que o sucesso torna as pessoas modestas, amigáveis e tolerantes, uma vez que também já recebeu o prémio que glorifica a sua responsabilidade ambiental, com o nome de Chico Mendes, o grande activista da preservação da Amazónia.

Este Prémio mostra ao país, através de uma gala de grande porte e divulgação, exemplos de solução conflitos entre desenvolvimento, justiça social e equilíbrio ambiental.

É o maior prémio sócio-ambiental brasileiro e foi conquistado por um casal de bracarenses... cujo sucesso se conquista sem danificar natureza e espezinhar os direitos dos trabalhadores.


Monday, September 2, 2013

Pousada: o decano dos autarcas


Joaquim Gonçalves, presidente da Junta de Pousada é o decano dos autarcas de Braga que este Domingo foram alvo de uma homenagem no âmbito da Feira das 62 Freguesias.

Com dez mandatos quase concluídos, Joaquim Ribeiro Gonçalves é a personificação da simplicidade no exercício do poder e o rosto da persistência na defesa dos interesses da sua população. De perto acompanham-no João Dias Pereira (Frossos) e João Dias Gomes (Arcos S. Paio), com nove vitórias eleitorais.

Podem discutir-se as suas ideias, mas a forma como se dedica à sua terra (com idas quase diárias aos serviços municipais para resolver problemas dos seus conterrâneos e da sua autarquia) é de uma beleza singular.

Ele é o rosto ímpar do poder local democrático desde o 25 de Abril numa terra simbolizada pelos cachos de uvas espiga de milho, imagens da produção vinícola e do cultivo do milho.

Joaquim Gonçalves é, qual ponte de Proselo, ex-libris da freguesia, de estilo românico, um dos mais belos monumentos humanos de Pousada, nas margens do Rio Cávado, que banha a freguesia. De acordo com a lenda local, esta ponte foi construída para conquistar as terras da outra margem do rio, pelos homens numa única noite, com pedras trazidas pelas mulheres que vinham de Terras de Bouro, a cerca de 30 quilómetros da zona.

Numa freguesia com vários locais de interesse turístico - Quinta de Lages, Casa da Pereira e Ponte do Porto – não foi acompanhado por outros poderes na requalificação do enorme património construído que testemunha tempos de riqueza e abundância nos séculos XVII e XVIII.

A Igreja Paroquial, as Capelas de Nª. Sra. de Fátima e de Sto. António testemunham a religiosidade de um povo que festeja S. Paio e celebra a Senhora de Fátima num belo templo moderno com escadório enriquecido de belos azulejos pintados. 

A Capela de Srª. de Fátima (no lugar da Gregoça, foi doada à freguesia por D. Maria Irene da Silva Araújo, esposa do Dr. Francisco Salgado Zenha). É a menina dos olhos do autarca que gere Pousada há 37 anos.

As Quintas de Além, da Pena e de Lages, Casa de Sampaio, Ponte do Porto ou de Proselo e Vinha de Lages (Castro Agrícola) são exemplos dessa abundância em séculos passados e de iminente ruína após abandono nas últimas décadas pelos seus proprietários.
A casa de Lages é um solar setecentista. No século XVI era foreira da igreja de Pousada, passando em 1595 a pagar foro ao Convento do Pópulo.

A sua fachada actual foi mandada construir no primeiro quartel do século XVIII por Francisco do Vale Araújo, Familiar do Santo Ofício. Era último senhor o Eng. Amadeu de Sá Menezes, quarto neto deste último.

A casa tem salas com paredes e tectos pintados (em tela ou fresco) e possui uma Capela datada de 1725, com um belíssimo altar barroco.

Da Casa da Pena, frente à sede da Junta, foi seu primeiro senhor D. João Nunes de Cerveira, no século XII, filho de D. Nuno Soares Velho, cavaleiro medieval do Reino.



Ao longo dos dez mandatos, Joaquim Ribeiro Gonçalves deixa uma freguesia dotada de Sede da Junta (com apoio social e salão de festas), Jardim de Infância (2 salas), Escola Básica do 1.º Ciclo (3 salas e cantina) e Polidesportivo.

Na sede da Junta é prestado Serviço de Enfermagem quinzenal, à 5ª feira, e uma carrinha presta apoio às crianças e associações da freguesia.

Dos grandes melhoramentos, para além de uma extensa rede viária, abastecimento de água e saneamento, o alargamento, pavimentação e colocação de colectores de águas pluviais na Rua de Além, requalificação da sede da Junta de Freguesia e da Escola Básica do 1.º Ciclo, drenagem de esgotos, estação elevatória e conduta elevatória com ligação à E.T.A.R. de Crespos e colocação de antenas para acesso gratuito ao serviço de internet sem fios, em qualquer ponto da freguesia constituem a herança de um autarca requintado.

Com quase 500 habitantes, Pousada vai ser agregada a Crespos, por força da prepotente reforma administrativa do território.

Wednesday, May 29, 2013

Na Alfacoop, em Ruílhe: fotos que querem educar



Acidentes rodoviários” é uma exposição de fotografias que merece “ser itinerante pelas nossas escolas e vou propor que isso possa acontecer” – disse Palmira Maciel, em Ruílhe, na Alfacoop-Externato Infante D. Henrique.

A vereadora da educação, que representou o presidente do Município de Braga, falava na sessão inaugural da exposição de fotografias de Flávio Freitas sobre a sinistralidade rodoviária que está patente até 10 de Maio.
José Ferreira, director da escola, destacou as potencialidades da fotografia na formação integral dos alunos e agradeceu à GNR e Bombeiros Voluntários de Braga pela colaboração na iniciativa (cf. www.eidh.eu). 

A exposição do fotógrafo do jornal Correio do Minho integra-se neste programa de sensibilização da comunidade escolar - segundo e terceiro ciclos e profissionais do ensino secundário - para a necessidade de “educação rodoviária, como uma componente essencial da educação para a cidadania”.

Na presença do tenente Silva, oficial da GNR que desafiou a Escola Cooperativa da Alfacoop a avançar para este projecto, José Ferreira agradeceu o apoio da Junta de Freguesia de Ruílhe e da Império-Bonança que tornaram possível esta acção.

Coube ao antigo director do jornal Correio do Minho apresentar Flávio Freitas, destacando a sua permanente disponibilidade para que este trabalho fosse possível, com imagens que enriqueceram as páginas do Correio do Minho nas últimas décadas.

Costa Guimarães evocou alguns momentos da história da fotografia como uma das maiores criações do génio humano que, mercê da inovação tecnológica do digital, democratizou esta arte. “Hoje, todos podemos ser fotógrafos, com o nosso telemóvel” mas nem todas as fotografias podem ser publicadas. Essa é uma das diferenças entre a foto, em termos genéricos, e a fotografia de jornal que vale mais que “mil palavras” e serve de “testemunha ocular” do acontecimento que as palavras descrevem.
 
Nessa perspectiva, o fotojornalismo rege-se pelas mesmas regras do jornalista no que se refere aos direitos das pessoas à imagem, dignidade e bom nome.

Socorrendo-se da etimologia das palavras, Costa Guimarães destacou que a palavra grega “fotós” significa luz e “grafis” quer dizer “pincel”, ou seja, fotografar é “desenhar com luz e contraste”. 

Mas há uma peça da máquina fotográfica que dá força ou, quantas vezes, destoa das palavras que a acompanham: é a “objectiva” que desmonta a subjectividade de um texto. 

Costa Guimarães deu alguns exemplos do que deve ser uma fotografia jornalística (não manipulável) e concluiu que “ninguém consegue focar uma lente com os olhos cheios de lágrimas”.

Por isso, a crueldade das imagens de Flávio Freitas é entendida como trabalho da “objectiva” de quem não toma partido porque a sua missão é “registar pedacinhos da história humana, nas suas alegrias e nos seus dramas, nas suas derrotas e nas suas vitórias, na rota da esperança e nas ribanceiras do desespero”.








Moita Flores no Colégio D. Diogo: saber vale pouco em afectos

Sem afectos não vale a pena sermos grandes sábios” – afirmou sexta-feira, em Braga, o prof. Francisco Moita Flores, parafraseando Antero de Quental.
Este escritor, autarca, investigador criminal e professor falava no sarau cultural que encheu o grande auditório do Colégio D. Diogo de Sousa, numa iniciativa do Departamento de Português e Latim, enriquecido com música, dança, poesia, vídeo e teatro, interpretados por professores e alunos.

A noite abriu com a sonoridade do Ensemble do Colégio e o director da Escola confessou o orgulho que sente com os “nossos professores, os nossos pais e os nossos alunos” na construção de uma escola que “faz vibrar e sentir a beleza da cultura, da dança, da música e da literatura e tem um cuidado especial com a Língua portuguesa”.

O padre Cândido Sá afirmou que este é “um momento de satisfação e de realização dos nossos alunos” e agradeceu a presença do convidado da noite, Francisco Moita Flores.

O autor de novelas e romances, além de professor e investigador na área criminal, alertou os pais e jovens presentes que “não podemos perder tempo porque a vida é um bem escasso e não há tempo para perder com coisas fúteis”.

A vida deve ser vivida na “procura insistente da felicidade” que se conquista todos os dias “quando realizámos obras e concretizamos os nossos sonhos”. Por isso, “saber e amar são o único caminho para nos sentirmos em paz connosco” – assegurou Moita Flores.

Definindo-se como um “desassossegado”, Moita Flores pediu aos jovens que “não percam tempo com desencantos, desgostos, zangas e desarmonias” nesta caminhada em que “devemos procurar a felicidade através do sofrimento, do trabalho, do estudo para saborear depois o triunfo”.

Se nos demitirmos do trabalho e da dedicação, somos ultrapassados pelos que estão menos desatentos ao essencial da vida” – alertou este grande admirador do Papa Francisco que “tem o meu nome, o do meu pai, o do meu avô e o do meu filho”.

O escritor deve o gosto de ler ao pai e o prazer de escrever ao seu professor de português porque só se pode ser grande escritor se for grande leitor e “a nossa vida é um livro que vamos e vão-nos folheando”.

Nesse sentido, a actual crise económica e financeira “é a mais fácil de resolver. Já tivemos crises piores mas agora vivemos na era da informática e a maior crise é outra: “aceleramos o tempo e contraímos o espaço”. 
“Ficamos sem tempo para o fundamental: alimentar a relação afectiva com os outros; não há tempo para a família, para o amor, para um abraço, para os beijos e quando queremos esse tempo, já passou” – sublinhou o orador, arrancando palmas às centenas de pessoas presentes.

MERKEL É MAIS POBRE QUE EU…”

Francisco Moita Flores aflorou outro tema bem português: “a culpa é do outro e eu não tenho culpa de nada do que acontece e nos acontece”.
Durão Barroso atribuiu a tanga a Guterres, depois saiu e Santana Lopes culpou Barroso, Sócrates culpa o antecessor e Passos Coelho e Gaspar dizem que a culpa é de Sócrates e o país continua adiado - resumiu.

Portugal tem um bem precioso para não ser uma pátria adiada: “Quando Merkel veio a Lisboa, eu olhei para aquela figura que fala alemão e pensei: ela é mais pobre que eu. Eu falo uma das línguas mais faladas do mundo. Ela já alguma vez imaginou este património fabuloso que demos ao mundo, durante oito séculos, através da nossa diáspora, em todo o mundo?”

Quanto vale isto? – exclama o ex-autarca de Santarém, perguntando: “porque estamos tesos, não prestamos para nada?”


O GOLO MAIS SABOROSO DA MINHA VIDA

Amante de livros, da pintura (capaz de chorar diante de “Nenúfares” do impressionista Claude Monet - “e não me ajoelhei a rezar porque me podiam julgar maluco”-) e da música, Francisco Moita Flores ri-se, como “sportinguista” com as celebrações dos benfiquistas aos 91 minutos, a pedir cervejas e mais garrafas, a gritar “campeões” e um “melão de todo o tamanho, ao minuto 92, com o golo do Porto” que “foi o golo mais saboroso da minha vida”.

Depois explica-se: “Eu não percebo porque se fica triste por uma coisa completamente fútil e vã. É o tempo mais mal vivido e mais mal perdido da nossa vida. Por causa dos golos que os outros marcam. Não são nossos”.

A terminar a sua conversa com a prof. Andreia Lopes, Francisco Moita Flores deu duas notas ao auditório: “os livros são os nossos maiores amigos e são o maior instrumento da revolução para o futuro. Ensinem isto aos vossos amigos, filhos e netos”.

Citando Antero de Quental, numa carta a um amigo seu, o escritor disse: “desculpa por não te escrever há muito tempo, mas há uma cidade dos pensamentos onde todos os dias te dou o meu abraço. Sem afectos – concluiu -, não vale a pena sermos grandes sábios”.

Convivi com os mortos…
até perceber a ausência”

Um dos momentos emocionantes da noite aconteceu quando Francisco Moita Flores falou da sua carreira como investigador da Polícia Judiciária.
Convivi com os mortos a vida inteira. Conheço os mortos e o que lhes acontece a todas as horas, após os dias e os meses. Dormíamos a sesta dentro de caixões, nos intervalos do trabalho ou após o almoço. Para mim a morte era banal até ao dia em que me telefonaram um dia, quando estava no cemitério de Macedo de Cavaleiros” - narrou o escritor.

A tua Mãe morreu” – ouvi dizer do outro lado. Nunca a morte me batera à porta. Saí do cemitério como se fosse mais uma morte. Ao passar pelo Porto ainda era o cientista da morte mas quando cheguei a Coimbra senti que algo me incomodava com violência. Aquela não era um dos meus mortos. Cheguei a Lisboa para colocar uma gravata preta e encontrei a minha família toda a chorar. Aí, percebi o profundo desgosto. Ali descobri o que era morrer”.

Para Francisco Moita Flores foi preciso a morte da “minha mãe para eu, profissional da morte, perceber que morrer é a ausência de um abraço, de um beijo, de um toque, de um afago, dos passos; uma ausência tão definitiva. Eu estava despedaçado”.

Assim, conclui, “não vale a pena viver nas vis arrogâncias porque o que importa é construir os nossos afectos. A nossa crise mais profunda é esta”.