Tuesday, November 17, 2009
"Pedaços & laços" de antigos seminaristas
"Pedaços & laços" é uma fantástica colectânea de testemunhos de alunos que frequentaram os seminários de Braga entre 1958 e 1970 que dá resposta à questão colocada por um dos coordenadores na apresentação do livro quando pergunta: "que força nos une?"
É um livro que interessa aos 152 rapazes que, entre 1958 e 1970, mais a tantas centenas que cruzaram as suas vidas nos Seminários de Braga, aos familiares e a todos aqueles a quem o dia-a-dia de uma escola religiosa pré e pós conciliar desperta curiosidade que é bem saciada, ao longo de 140 páginas enriquecidas com um CD carregado de documentos e fotos.
A propósito dos 50 anos de entrada de 118 rapazes no Seminário da Tamanca ou de Nossa senhora da Conceição, em 2008, três antigos alunos lançaram o desafio a todos os seus companheiros para recolherem testemunhos, documentos, fotografias e outro material de interesse, para assinalar aquela data inesquecível para todos eles.
Ernesto Português, de Monção, Marques Mendes, de Sobreposta, e Manuel Duarte, de Adaúfe, pediram a todos que relatassem um episódio ou vivência curiosa e marcante da sua passagem pelo Seminário, com "inteira liberdade e sem preocupações literárias", além da cedência de fotos ou adereços como a primeira mala de cartão...
Houve muitos que colaboraram respondendo à pergunta de Marques Mendes — "Que força nos une?" — apesar do caminho diversificado que todos seguiram: padres, professores, empresários, comerciantes, funcionários, administrativos, advogados, médicos, militares, etc.
Em resposta ao desafio daqueles três companheiros de carteira, muitos "vasculharam o fundo da sua memória" enquanto outros "deram a volta à sua velha mala de cartão e encontraram fotografias e documentos" que agora partilham com os seus colegas e com muitos que andaram nos seminários naquelas duas décadas.
Das 150 páginas resultam testemunhos sobre a "porta de mobilidade social para dezenas de milhar de adolescentes provenientes do mundo rural e famílias desfavorecidas" enquanto outros destacam "a formação sólida e rigorosa recebida que garantia aos que saíam do seminário uma rápida e bem sucedida inserção no mundo profissional ou académico".
"A disciplina, os hábitos de trabalho e a qualidade do ensino eram garantia de sucesso na vida" — acrescentam outros ex-seminaristas que participaram nesta obra de memórias que apontam a revista "Cenáculo" como outra porta por onde se "conseguiam espreitar ideias novas e divergentes", numa altura em que Braga dentava dificuldades para que "o concílio Vaticano II destronasse Trento e muitos viviam "o sofrimento que esta guerra conciliar gerou".
De fora sopravam os ventos de maio de 68, os estilhaços da Guerra do Vietname, do estertor do colonialismo, os sons dos Beatles e as discussões pós-conciliares e como só morre quem é esquecido, esta obra recorda todos aqueles que se cruzaram entre si ao longo de 12 anos de estudos e de juventude, desde alunos a professores.
As grandezas e miudezas de uma vida em comum, dos prefeitos e dos professores, são passadas a pente fino, sem esquecer os momentos de polémica, como a expulsão geral dos finalistas de Teologia e sua readmissão, em dois grupos. Seguem-se os depoimentos, a recordação dos que já partiram e um apêndice rico de fotografias sobre encontros anuais e vivências nos seminários.
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