Saturday, November 7, 2009
Pobreza em Braga: a mãe e a filha
A presidente da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Braga denunciou esta semana o ‘quadro muito preocupante’ de negligência de que são vítimas muitos menores de famílias romenas radicadas no concelho.
Fátima Soeiro afirmou que ‘são cada vez em maior número as situações terríveis de negligência’ naquela comunidade emigrante.
Nós sabemos que, entre nós, é vergonhoso reconhecer a própria pobreza e assim se explica muita pobreza envergonhada, mas pior do que isso é não esforçar-se para escapar da pobreza. Essa incapacidade traduz uma pobreza maior e inquietante, a miséria espiritual.
É o que se pode dizer de uma família com rendimento social de quase 1 800 euros mensais, no seio do qual foram encontradas crianças com fome.
É o que se pode dizer da chegada, quase todos os dias, denúncias de crianças romenas maltratadas no seio familiar, de que é expoente exemplar uma família romena a quem foram retirados oito dos dez filhos.
Um observatório dinamizado pela Câmara de Braga, recolheu oito dezenas de casos de negligência infantil em famílias romenas, por norma bastante numerosas, cujo acompanhamento é difícil, dada a sua grande mobilidade no território nacional.
Se a pobreza antes era considerada obra de injustiça, com os novos mecanismos de apoio, temos de considerar a pobreza, em muitos casos, incapacidade ou miséria espiritual e essa não se combate com subsídios.
Acho que foi Jean Paul Sartre quem escreveu que a pobreza e a esperança são mãe e filha. Ao entreter-se com a filha, esquece-se da mãe — acrescentava ele, com flagrante actualidade entre nós.
Nos casos apontados em Braga, esta semana, Portugal parece estar a divertir-se com a mãe (a pobreza) descarregando gasolina sobre a fogueira e a esquecer-se da filha (a miséria espiritual ou ignorância), adiando a sua promoção humana, através da educação para os valores e da vida.
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