Friday, March 4, 2011
Arquitecto da Química na UM extasia "D. Diogo de Sousa"
Três alunos do Colégio D. Diogo de Sousa escolheram o casal de cientistas Raquel e Hernâni Maia para deliciar os seus colegas do ensino secundário no âmbito do concurso nacional “Se eu fosse um cientista”. A esposa dedica-se à história da ciência e ele é o verdadeiro arquitecto da química na Universidade do Minho.
No âmbito do Ano Internacional da Química os alunos Manuel Pinho, Ana Rita Fernandes e José Carlos Martins escolheram um cientista (neste caso um casal) para estudar a vida e obra dele(s) e participam neste concurso que vai na segunda fase que consiste num vídeo sobre a “angústia do cientista”.
Eles formam o grupo Novélios – do décimo ao 12.º ano -, coordenados pela Prof. Ana Sofia Vila-Chã e proporcionaram a tarde de segunda-feira um retrato autobiográfico deste casal de cientistas, em que o marido, Hernâni, é o pai da Biotecnologia da Universidade do Minho, após uma adolescência dividida entre o desenho (arquitectura) e as ciências.
Acabou por desistir do desenho (sem nunca o largar) quando ficou fascinado pelo livro “A Origem da Vida” de Stanley Miller que evitou que fosse o pior aluno da turma...
A caminhada de Hernâni Maia incluiu a engenharia química na Universidade do Porto, com 20 valores em Química Orgânica, em 1957,o que lhe abriu as portas para investigação nos aminoácidos e péptidos. Experiência se misturaram na sua vida, como radiografia industrial do arco que suporta a Ponte Arrábida, no Porto, ou deixar esta Universidade e concluir o curso em Coimbra e montar laboratórios e bibliotecas universitárias ou escrever manuais para os alunos.
Na década de 60 vive em Luanda até ler o livro que lhe muda a vida em 1966 e leva para a Universidade de Exeter onde esteve cinco anos. Em 1971, como membro de “The Chemical Society” cria a licenciatura em Química na Universidade de Luanda, sendo o arquitecto do Instituto de Química.
Com o 25 de Abril regressa a Portugal sem emprego e é convidado pela Universidade do Minho para criar a Escola de Química Orgânica, cujos laboratórios desenha, nos pavilhões da Rodovia. Em 1983 organiza em Braga o 1.º encontro sobre a Origem da Vida, com 400 pessoas de todo o mundo, que deixa estupefacto o químico orgânico da NASA, Cyril Ponnamperuna, e contribui para a entrada de Portugal na Comissão Europeia de Péptidos.
Com as instalações definitivas, é ele quem desenha os laboratórios e mobiliário para o Departamento de Química da UM e consegue um financiamento de 1700 mil euros para equipamentos de Biotecnologia e Química Fina da escola bracarense.
No ano de 1993 organiza em Braga o 23.º Simpósio Europeu de Péptidos, com 1200 especialistas de 37 países, antes de participar num projecto europeu que envolve seis universidades e quatro empresas.
Dez anos depois orienta o primeiro mestrado sobre a Origem da vida na UM e em 2006 a sua jubilação estimula um Simpósio onde se reconhece que a Escola de Química Orgânica e o seu centro de investigação são excelentes para as organizações internacionais.
Agora, Hernâni Lopes da Silva Maia, nascido no Porto, em 31 de Março de 1936, dedica-se a escrever livros sobre “A origem da Vida” enquanto a sua equação inicial das moléculas dos péptidos – que o levou a Exeter – era resolvida por uma das suas alunas, uma angolana.
E a Raquel Maia?
Raquel Maria da Cruz Gonçalves Maia, esposa de Hernâni, é doutorada em Química e Professora Catedrática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa desde 1995, Departamento de Química e Bioquímica.
Entre os autores portugueses de livros de ciência mais produtivos avulta o nome desta professora de Química da Universidade de Lisboa que fez as delícias dos alunos do “secundário” que encheram o auditório do Colégio Dom Diogo de Sousa para a ouvir.
Além de manuais de ciência pura e dura (“Cinética Química”, 1986, com Lídia Albuquerque), ela é autora de livros de divulgação da ciência (“Diálogo sobre os Dois Principais Sistemas do Mundo”, 1998, e “Histórias com Sentidos”, 2002, ), de filosofia da ciência (“Ciência, pós-Ciência e mega-Ciência”, 1991), e de história da ciência (“O Legado de Prometeu”, 2006, e “Laboratórios de Química em Portugal”, 1998, com Ana Luísa Janeira e Maria Estela Guedes).
Como se tudo isso fosse pouco é também autora de alguns romances (“Elementos Alquímicos”, 1995; “Para além da Impressão”, 1996; e “Contos de Azul e Terra”, com Risoleta Pinto Pedro).
Pois acaba de sair mais um volume da mesma autora que pode ser classificado na história das ciências, embora também o possa ser na divulgação científica.
O título “O Legado de Nobel” é parecido com o anterior “O Legado de Prometeu”, mas o subtítulo é agora “Perfis da Ciência do Século XX (1900-1959)” em vez de “Uma Viagem na História das Ciências”.
O foco centra-se na atribuição do primeiro Nobel embora só alguns deles receberam o Prémio Nobel: de facto, dos 18 nomes só sete beneficiaram dos favores da glória outorgada pela Academia Sueca (os médicos Karl Landsteiner, descobridor dos grupos sanguíneos, e Thomas Morgan, descobridor dos genes, os químicos Linus Pauling, teórico da ligação química, Dorothy Hodgkin, descobridora das estruturas do colesterol, penicilina e vitamina B12, e Willard Libby, inventor da datação por carbono14, e os físicos John Bardeen, inventor do transístor e teórico da supercondutividade, e Charles Townes, inventor do maser); os outros bem poderiam ter tido o Nobel, mas por uma a razão ou por outra (por exemplo, por a respectiva área não ter direito a prémio) não o tiveram (os químicos Leo Baekeland, inventor do plástico, e Wallace Carothers, inventor do nylon, o geólogo Alfred Wegener, descobridor da deriva dos continentes, o antropólogo Raymond Dart, descobridor do “Australopithecus”, o astrofísico Georges Lemaître, teórico do “Big Bang”, a física Lise Meitner, teórica da cisão nuclear, e o físico Frank Oppenheimer, “pai” das primeiras bombas atómicas, o engenheiro Konrad Zuse, pioneiro da computação, a química Rosalind Franklin, pioneira da estrutura do DNA, o médico Jonas Salk, descobridor da vacina da poliomelite, e o físico e escritor Charles Snow, autor da tese das “duas culturas”).
Em paralelo com a sua actividade de investigação na área da Química, a Epistemologia, a História das Ciências e a Divulgação Científica têm suscitado o seu vivo interesse ao ponto de “criar discípulos” e ter “netos científicos”.
Desde 1994, leccionou disciplinas de âmbito científico-cultural, de que se destacam Ética das Ciências e das Técnicas, História das Ideias em Química, História das Ciências e Ciência na História (Licenciaturas em Química, Ensino da Física e da Química - Variante Química e Bioquímica).
De 2003-2006, leccionou, em colaboração, no curso de Mestrado/Especialização na Universidade do Minho Evolução e origem da vida, as disciplinas História das Ideias, Filosofia das Ciências e Temas Interdisciplinares.
De 2004 a 2007, colaborou na leccionação de várias disciplinas do curso de Mestrado/Especialização Química aplicada ao património cultural (2004-2007).
Desde 1999, é colaboradora permanente do JL. Jornal de Letras, Artes e Ideias, tendo tido a seu cargo a coluna Ciência e Sociedade.
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Um abraço a estas duas doces luzes: da ciência e da vida.
ReplyDeleteQueridos amigos.