Wednesday, March 25, 2009

Carvalho d'Este: marcos de ouro da resistência de Braga aos franceses



A população da freguesia de Covelas evocou Domingo a batalha de Carvalho d'Este, um dos momentos mais dramáticos das invasões francesas que, durante seis anos, deixaram quase 200 mil mortos em Portugal, a nossa indústria e agricultura destruídas e milhares de vagabundos por todo o território, conforme sublinhou o dr. Jorge Gomes, na palestra que assinalou a sessão solene. "Foi a guerra mais terrível que Portugal sofreu dentro das suas fronteiras" com 200 mil mortos em seis anos. A Guerra colonial — durante 13 anos — causou seis mil mortos entre 10 mil soldados.

Num auditório cheio, a sessão realizada na sede de Junta de Covelas constituiu uma homenagem à memória dos milhares de bracarenses e povoenses que deram a sua vida na principal batalha antes da conquista de Braga, junto ao campo de futebol.

A sessão comemorativa incluiu o hastear das bandeiras, ao som da banda dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Lanhoso, seguindo-se o descerramento de uma placa que evoca a batalha da Serra do Carvalho e a inauguração de uma exposição sobre aquela batalha no contexto da segunda invasão francesa.

À palestra sobre a segunda invasão gaulesa pelo dr. Jorge Gomes assistiram, entre outras personalidades, os presidentes da Câmara e Assembleia Municipais da Póvoa de Lanhoso, o presidente da Junta de Freguesia de Covelas, Jaime Oliveira, principal dinamizador desta iniciativa, o Padre António Rodrigues Couto, bem como a vereadora Fátima Moreira e o comandante dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Lanhoso e candidato do PS às próximas eleições municipais, António Lourenço.

Jorge Gomes proporcionou aos presentes uma "magnífica lição de história" que incluiu os antecedentes, as invasões e as consequências da chamada guerra peninsular, para utilizar a expressão final do presidente da Câmara, Manuel Baptista. O autarca, concluiu que esta sessão "contribuiu para reforçar o nosso orgulho de ser português e povoense", tendo em conta a forma heróica como os nossos antepassados defenderam e protegeram esta terra.

Depois de descrever a primeira invasão, a fuga da família real para o Brasil, a destruição e desorganização do exército num país que ficou sem Marinha e Cavalaria, Jorge Gomes destacou o papel do clero na resistência aos franceses, não só porque eram contra a Revolução Francesa mas sobretudo porque perdiam dez por cento de tudo quanto era produzido pelos agricultores. Jorge Gomes mencionou o nome dos padres António Tomas da Cunha e Joaquim Pereira, entre os que morreram na Batalha de Braga, além de muitos padres Oratorianos.

No Porto, por exemplo, existia um batalhão constituído só por 200 padres que foram todos mortos.
Depois da retirada dos franceses, em Agosto de 1808, com os sinos de todo o país a tocar em festa, os portugueses pensaram que os franceses não voltavam. Puro engano, depois de Soult vencer na Corunha e preparar a segunda invasão, por Valença em direcção ao Porto.

Sem marinha e exército, com as armas de caça todas interditas desde Dezembro de 1807, os conventos eram obrigados a alimentar o nosso exército, como aconteceu em Braga com Convento da Graça cujas freiras tinham de alimentar diariamente cem soldados com água, luz e sal. Não havia cavalos nem armas nem quartéis e os melhores oficiais portugueses tinham sido levados para França. "Tudo o que cheirasse a Liberal via a casa incendiada e era morto" — assegura Jorge Gomes, destacando que "em Braga foi uma mortandade tremenda".

Em Janeiro de 1808, aquele que era uma dos melhores estrategas militares de sempre, o Marechal Soult, conquista a Galiza, deixando para trás uma impressionante colecção de vitórias militares desde Austerlitz. Valença, Cerveira e Caminha resistem em Fevereiro de 1809 e impedem a sua caminhada em direcção ao Porto.




RESISTÊNCIA
INCRÍVEL
NO PINHEIRO

Soult entra por Chaves, onde o General Silveira — cuja manobra será determinante para a derrota de Soult e travar a conquista do Porto— recua até Vila Pouca de Aguiar, caminhando em direcção a Braga, onde as tropas eram comandadas por Bernardim Freire de Andrade, com um irmão afrancesado, o que ajuda a explicar o seu "assassinato bárbaro pelos bracarenses".

Com apenas 1.400 homens, oito canhões e oito regimentos de milícias mal armadas e preparadas, Bernardim tentou travar Soult em Ruivães, no dia 13 de Março, com um ataque na Venda Nova, enquanto os caçadores de Montalegre se aliavam.
O Marechal Soult comandava 23 mil militares franceses mais doze mil espanhóis, com 4.700 cavalos e cães que descobriam onde estavam os soldados portugueses. "Escolheu a via romana para fazer passar os canhões".

Em Braga as tropas estavam confiadas ao Barão Eben — que "arranjou umas intrigas contra Andrade e ajudou à sua morte que podia ter evitado" — depois de ter fugido de Montalegre para a Serra do Carvalho.

Os franceses estacionam, com aparato assustador, os 35 mil homens em Rendufinho, com milhares de fogueiras à noite que proporcionavam um espectáculo impressionante a Andrade e Eben, que os observavam no Alto de Covelas.

Soult chega a 18 de Março ao Pinheiro, na Póvoa de Lanhoso, onde morre um general francês. Ataca "com 14 mil homens mas sem sucesso. Nas três investidas morreram 12 portugueses que "resistiram de uma maneira incrível". É então que decide atacar com três eixos de progressão: pela Ponte do Porto, pela Falperra e Serra do Carvalho.

BERNARDIM
ESQUARTEJADO
DIANTE DOS FILHOS
E DEITADO
À LIXEIRA


Bernardim Andrade, aconselhado por Vilas Boas, sugere o recuo dos portugueses até ao Porto. Os bracarenses não aceitam, os sinos tocam a rebate. Muitos bracarenses fogem para o Porto e outros vêm combater para Carvalho d'Este. Os que fugiram para o Porto acabam por integrar o grupo de cinco mil mortos na Ponte das Barcas. Braga, apesar de ficar quase deserta, há sofrer com a morte de duas mil pessoas, sem combate.

Enquanto fugia para o Porto, Bernardim de Andrade é "detido em Tebosa, com vinte militares que o traíram, a 17 de Março. Os populares detiveram-no. Trouxeram-no para Braga e, diante da mulher e dos 4 filhos, foi esquartejado, arrastado pelo chão e enterrado numa lixeira" — recordou mais adiante Jorge Gomes.

A Batalha de Carvalho d'Este deve ter sido horrorosa: "vinte mil portugueses estiveram ali a combater, com cinco mil armas apenas com três recargas (que demoravam dois minutos entre cada tiro), onze mil com chuços e paus" pouco puderam fazer contra um ataque em coluna, nos terrenos junto ao Campo de futebol de Covelas, na Nascente do rio Este e na via romana.

"Morreram ali 1200 portugueses, 40 franceses, 400 minhotos foram feitos prisioneiros, entre eles o pároco de Covelas, na batalha de 20 de Março que demorou uma hora (entre as 9 e as 10 horas" — especifica Jorge Gomes.

O ambiente de tensão devia ser infernal, porque Soult envia vinte prisioneiros (feitos no Pinheiro) como mensageiros aos bracarenses concentrados em Carvalho d'Este para que "os deixassem passar e não resistissem" aos franceses. A populaça em fúria não os ouviu e "foram chacinados pelos portugueses".

Uma divisão francesa saiu de Rendufinho e passou por Geraz do Minho, Monsul, Águas Santas e rumou a Covelas. A outra partiu de Pena Província desceu a Lanhoso, subiu a Pedralva e a terceira estacionou na Falperra. A Ponte do Porto foi defendida por populares, no dia 20 de Março, liderados pelo cavaleiro Belchior e Castro. Por aqui fugiam os idosos, mulheres e crianças da Póvoa de Lanhoso.

Para além desta tensão, um canhão português explode e mata alguns portugueses. Os franceses devem ter entrado na cidade de Braga ao meio dia de 20 de Março, mas na fuga já o Barão de Eben tinha tomado todo o material de guerra e fizera explodir quinze barris de pólvora fazendo tremer a cidade. A cidade estava deserta mas ainda foram mortos dois mil bracarenses e feitos 400 prisioneiros.

Os 800 feridos da batalha foram tratados num espaço onde hoje é o Teatro Circo. A realidade da tragédia não é ainda verdadeiramente conhecida porque muitos registos paroquiais desapareceram mas pode dizer-se que a marcha de Soult causou também mortos em Barcelos (pelo menos 15), Póvoa de Lanhoso (30), Famalicão (25).

AS ATROCIDADES
DOS FRANCESES;
IDOSA LIMIANA
FEITA CHURRASCO

Em Rendufinho ficara uma reserva de dez mil homens das divisões de Soult, cuja missão era vir atrás dos combatentes para "roubar gado, ouro, pratas, Igrejas onde entravam a cavalo, etc.)" para abastecer os militares e alimentar os cavalos. "Em Ponte de Lima, narrou Jorge Gomes, uma velhinha veio à porta ver os franceses a marchar, foi morta, fizeram um churrasco dela e comeram-na".

O Marechal Soult deixou Braga no dia 25 de Março em direcção ao Porto, pelas Taipas, quando já começava a reconquista portuguesa, com Chaves a cair nas mãos dos soldados do General Silveira, no dia 21 de Março.

Começava aqui a maior derrota de sempre de Soult que, não conquistando o Porto, é derrotado em Amarante, onde os franceses até "mataram os doentes que estavam no hospitaL".

Jorge Gomes destacou depois a acção do General Wellesley, um irlandês que há-de vencer os franceses no Buçaco, em Salmanca e em Waterloo.

Na fuga do Porto para Espanha, Soult, sem tempo a perder, destrói toda a sua artilharia e o ouro e prata que tinha saqueado. Chega a Guimarães a 14 de Maio e, no dia seguinte, os regimentos de Wellesley reconquistam Braga. O General Silveira ocupa Ruivães (Vieira do Minho) e impede que os franceses saiam por Chaves.

"Na ponte de Misarela, destaca Jorge Gomes, os franceses levaram tanto e tantas que tiveram de retirar por Salamonde, Paradela e Montalegre. O Marechal Soult abandona Portugal com apenas 15 mil homens e dois mil cavalos. Ou seja, perde 20 mil soldados e 2.700 cavalos. Foi a guerra mais terrível que Portugal sofreu dentro das suas fronteiras". — concluiu o orador.

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