Wednesday, June 1, 2011
Submissão americana sem pestanejar
A maior parte das notícias do mundo vêm de fontes dos Estados Unidos da America, diz no seu “Ultime notizie sul giornalismo”, Furio Colombo, professor na Columbia University, de Nova Iorque.
Para este autor, os mais elementares princípios do jornalismo são destronados hora a hora, em directo, por meras considerações comerciais voyeuristas.
Também Neil Postman afirma que televisão mudou a maneira como o acesso à informação e à cultura é concebido: cobertura da actualidade transforma-se em espectáculo, de longa duração, em tempo real, com os eventos programados do casamento de Londres e da cerimónia religiosa em Roma, as celebrações de Fátima ou a Final de Dublin.
Pode chamar-se informação, no sentido jornalístico da palavra, às coberturas propostas pelas televisões dos eventos de Londres, de Fátima, de Dublin e de Roma? Não. São manifestações encenadas e submetidas a repetição, obedecendo a guarda-roupas, publicidade e a guiões estritos?
É a nova chapa de chumbo totalitária das democracias... que Aldous Huxley tão bem descreveu.
Os Estados Unidos conseguiram instalar-se no centro da circulação da informação e nos negócios (que geram informação que convém) numa luta desigual pela supremacia de uma moeda mundial, em que o Euro começa a ficar de gatas neste combate onde vale tudo.
Os americanos pretendem impor ao que resta (do resto) do mundo os seus critérios de resolução da crise que, em grande parte não preveniram e causaram, e em consequência, as regras da informação.
Justiceiros da moral das figuras públicas, os jornalistas viraram pastores evangélicos e os editores bispos dos “mass media” e da política, numa perigosa convergência entre jornalismo e moral conservadora. As leis da República ou da Democracia foram imoladas no altar dos mandamentos morais.
Joseph Pulitzer é um aprendiz comparado com o que se faz hoje, sabendo como todos sabemos que o sensacionalismo em torno da sexualidade faz vender papel e alargar audiências.
É neste cenário ideológico que tem mais de religioso que republicano e muito menos sã democracia, que se enquadra a prisão do director geral do FMI.
Ele pôs-se a jeito para ser a estrela de um colossal espectáculo mediático, para o qual a televisão americana já nos educou ao longo de décadas de séries policiais.
O total desprezo pela presunção de inocência a que todo o cidadão tem direito, faz com que não consigamos hoje distinguir uma série policial de um telejornal. Ambos os géneros têm audiências porque expõem ao mundo a humilhação directa de um homem algemado e sob escolta policial.
Amestrados por décadas de informação-espectáculo, também os europeus foram incapazes de parar um segundo e embarcaram práticas desavergonhadas e indignas da deontologia profissional sob a qual se escudam para legitimarem o direito à informação e à liberdade de imprensa.
Perante este espectáculo indecoroso, só um caminho: só uma deontologia e uma ética profissional afrontam televisões e internet vindos de países onde são pouco ou nada respeitadas.
É aí que podemos marcar a diferença. Será que o desejamos?
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